Friday, March 03, 2006

Transamerica

Realizador: Duncan Tucker
Intérpretes: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Elizabeth Peña, Fionnula Flanagan, Burt Young, Carrie Preston, Graham Greene
Classificação: ****

Trata-se de um “road movie” sobre a relação entre duas pessoas que vivem à margem da sociedade, embora por razões muito diferentes. Bree, que vive em Los Angeles, é quase uma mulher, falta uma semana para a sua operação de mudança de sexo. Nascida homem, sente-se mulher e quer sê-lo em pleno, apesar de no dia a dia já o parecer. A alguns dias da grande mudança recebe a notícia de que tem um filho e o seu mundo estruturado desaba. Tendo de ir a NY ter com ele, encontra um adolescente problemático, algo envolvido com drogas e que vive de vender o corpo para ganhar a vida.

Os dois iniciam uma viagem para atravessar o país, cada um escondendo os seus segredos e vivendo os seus medos, mas à medida que o tempo vai passando uma relação vai começando a nascer.

A história está muito interessante, e não sendo um filme extremamente dramático devido a ser intercalado com momentos mais leves e divertidos, o seu conteúdo é profundo. O tema principal é o mundo dos transsexuais e dos problemas que os rodeiam, a não aceitação pela sociedade e pela família, o ostracismo a que são votados e a que eles próprios se votam. Mas para além disso o relacionamento entre pai e filho surge como um pilar fundamental do filme. A relação entre dois seres confusos que acabam por se aproximar e encontrar apoio onde menos esperam.

As actuações dos dois actores principais estão muito boas. Dado o papel de Felicity Huffman ser “diferente” a sua actuação acaba por sobressair, especialmente porque a construção do personagem está muito bem conseguida e credível. A sua nomeação para o Óscar de melhor actriz é justa, mas a questão será se ao fazer um papel de alguém “especial” não será mais fácil do que fazer o papel de alguém normal?
Kevin Zegers, no papel do filho reencontrado também está bastante bem emprestando um ar de inocência perdida, de alguém indefeso mas que ao mesmo tempo já foi maltratado pela vida. Muito bom.

A banda sonora é interessante e variada abordando vários géneros musicais e étnicos, sendo acompanhada por uma bela cenografia em alguns momentos do filme.

Concluindo, gostei bastante do filme, vê-se bem e apresenta um bom momento de cinema, tendo uma história interessante e uma boa construção de personagens. Vale a pena.

Conceição Vences Leal

Capote (“Capote”)

Realizador: Bennett Miller
Intérpretes: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr. e Chris Cooper, Bruce Greenwood, Bob Balaban, Amy Ryan, Mark Pellegrino
Classificação: *****

Um dos livros mais bem sucedidos de sempre nos Estado Unidos foi “A Sangue Frio”, escrito por Truman Capote tendo sido uma obra que revolucionou a forma de escrita existente nos anos 50/60, dado o seu carácter de romance não ficcionado.
Este filme acaba por ser um misto de biografia do escritor com a própria história do livro que este escreveu. Começa quando Capote lê num jornal a notícia de um massacre no Kansas e resolve investigar, e toda a sua investigação que culminou na escrita da sua obra-prima.

O grande trunfo deste filme é sem dúvida Philip Hoffman, que consegue criar um personagem cheio de maneirismos (que vão muito mais além do que a voz de falsete) que é revestido de uma personalidade dúbia e que exprime uma elevada carga emocional. A composição do personagem é tal que é curiosa a forma como o actor nos mostra uma pessoa que mistura uma frieza imensa com uma carga emocional elevada. É esta mistura que fascina no filme e que ao mesmo tempo choca acabando por manter o espectador preso ao desenrolar da acção. No entanto gostava também de ressaltar o papel de Clifton Collins Jr., como um dos assassinos, cuja interpretação também é de alto nível.

Em relação ao restante elenco, mais uma vez, este é composto por actores conhecidos, que tendo interpretações de bom nível acabam por parecer mais apagadas quando colocadas contra a de P. Hoffman. No entanto Catherine Keener, nomenada para Melhor Actriz Secundária, tem um desempenho de elevado nível, acabando por ser um bocado a antítese de Capote, já que o seu papel é extremamente sóbrio e racional.

Todo o filme é muito interessante, e tendo ido um bocado desconfiada a pensar que ia assistir a um filme em que o personagem principal era um bocado exagerado devido ao que tinha visto nas apresentações tenho de confessar que mudei totalmente de opinião e afirmo que a interpretação é de excelente nível.
No global o filme está muito bem conseguido e merece a pena ser visto.
A não perder.
Conceição Vences Leal

Boa Noite e Boa Sorte (“ Good Night and Good Luck”)

Realizador: George Clooney
Intérpretes: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, George Clooney
Classificação: ****

Com a aproximação da noite dos óscares estrearam entre nós praticamente todos os filmes concorrentes às principais categorias.
Este, Boa Noite e Boa Sorte, é mais um dos grandes candidatos.

A história é muito simples, a acção passa-se nos anos 50 nos Estados Unidos na era da caça às bruxas liderada por McCarthy. A estação de televisão CBS, e mais precisamente uma equipa liderada pelo jornalista Edward Murrow atreve-se a contestar as acções desenvolvidas pela Comissão do Senado das Actividades Anti-Americanas.

O tema abordado é um tema muito interessante pois relata um período algo negro da América em que se vivia sobre com o sentimento anti-comunista, que teve bastante influência e repercussão a vários níveis, inclusive no mundo do cinema. O retratar do clima de opressão que se vivia e a tentativa de fazer chegar ao povo as injustiças cometidas, através de um simples programa televisivo é muito curioso.

O personagem principal está extremamente bem interpretado por David Strathairn (que merece estar na corrida à estatueta dourada) pois consegue dar ao seu personagem um carisma que acaba por ser um dos pilares do filme.
A realização também está bastante boa sendo de salientar o facto de se misturarem imagens reais dos discursos de McCarthy com imagens do filme. O facto do filme ser todo ele a preto e branco permite que tal inserção seja feita com sucesso o que dá um maior realismo a toda a história.
A Banda sonora está excelente, sendo introduzida cirurgicamente em momentos chaves através do recurso a uma cantora que grava nos próprios estúdios da CBS.

Em termos de elenco, este é de luxo, sendo composto quase todo ele por caras bem conhecidas.

Em resumo, é um filme muito bem conseguido cuja história evolui a um ritmo cadenciado e que consegue prender a atenção do espectador. Vale a pena ver.

Conceição Vences Leal